Estou fazendo academia, me disseram que faz bem pro corpo e pra alma, então resolvi encarar!Estou solteira, na maior solidão, só trabalho e faculdade, mereço isso...
Fiz minha matricula nas aulas de musculação e de ginástica localizada, e logo no primeiro dia me deparei com algo, ou melhor, alguém que me fez ver que essa parada de academia é bem legal.
Uma mistura de Eriberto Leão, com Marcos Pasquim e uma pitadinha do olhar de Rodrigo Lombardi, realmente fiquei impressionada com tamanha beleza e habilidade com os aparelhos de ginástica.
Comecei a trocar olhares com ele pelos espelhos da sala, e o que mais me impressionou, foi a retribuição singela, com apenas um sorriso e um olhar tímido que me gelou por dentro. Desse dia em diante ele tornou-se meu “namorado”, namorávamos por todo o tempo que estávamos na mesma sala fazendo nossos exercícios, mas sem trocar uma palavra, apenas nos olhando e saboreando cada movimento que o outro fazia.
Certo dia quando aguardava para utilizar um aparelho, o meu Divo também estava lá, sentou-se ao meu lado e folheou um jornal, pedi para que ele me passasse uma revista que estava na mesa de centro, querendo puxar assunto ele comentou o mau estado da revista, apenas sorri e retomei a leitura fitando-o discretamente. Quando finalmente o aparelho ficou livre ele caminhou em sua direção, e mostrou grande familiaridade com o que fazia, e durante sua série de exercícios namorávamos freneticamente por olhares.
Há duas aulas cheguei a academia, muito afim de dar aquela namorada com meu Divo; olhei ao redor mas ele ainda não tinha chegado; mesmo assim comecei os meus exercícios, e quando olhei pelo espelho num lapso de distração o vi, lindo como sempre, mas indiferente como nunca.Comecei a me exercitar a uma distancia menor que a comum, para verificar o porque daquele comportamento diferenciado.
Quando ele me notou, apenas sorriu como sempre fazia, e iniciamos o nosso flerte diário. Mas toda a minha alegria, como diz na música de Los Hermanos “Todo carnaval tem seu fim...” nesse dia teve um fim, meu carnaval acabou ali, naquele momento...
Visualizando as mãos do meu Divo percebi um acessório que antes não estava ali, não tratava-se só de uma aliança, era A ALIANÇA, dourada, grossa, trabalhada e na mão esquerda, indicando que meu namorado era casado, e o pior, eu era uma amante platônica.
Naquele instante rompemos, “nem mais um olhar, nem mais um olhar... ah e pra não esquecer não olhe mais em meus olhos”, gritava por dentro, esperneava e me descabelava; mas por fora o olhava com ar de desdém para que ele percebesse que não gostei do que vi, mas mesmo assim sobreviveria sem seus olhares.
No dia seguinte, quando cheguei a academia o vi, levantando peso, como sempre fazia sem resultado (a essa altura já o depreciava), e quando ele me viu, esboçou um sorriso sem graça, que outrora me tirava o fôlego. O olhei por cima, e notei que estava sem a aliança da discórdia.
O safado percebeu que rompemos por conta do seu relacionamento conjugal fixo, e que eu percebera que ela existia, e não era eu.
Isso mostra que o olhar fala mais que mil palavras, e que nosso olhos são capazes de dizer coisas que talvez a nossa boca nunca pronunciaria.